Palavras salteadas… à minha moda!(7)
A de… Arco-Íris
Enquanto me questionava sobre a palavra a escolher para confeccionar a crónica que iria servir ao leitor, a memória, como um espelho diferido, devolveu-me a imagem de um fim de tarde chuvoso do mês de Fevereiro.
Vi-me no meu pequeno terraço a contemplar, na parte traseira da casa, o céu carregado de nuvens inquietas e prontas a lançarem-se sobre os prados precocemente verdes. E foi então que o vi, diáfano, colorido, mágico, como uma moldura a abraçar o pinhal: o arco-íris! Era uma ponte a ligar-me à infância no que ela teve de melhor: a liberdade conquistada, milímetro a milímetro, às limitações, interditos e severidades que o dia-a-dia da vida familiar me impôs sem tréguas. E como num poema, lido há muito, cresceram-me as asas para dentro. Estruturalmente diferentes do que é habitual, iam sendo o suficiente para manter viva a esperança em dias melhores. E é com elas que ainda hoje voo…
Nesse tempo (há cerca de cinquenta anos) e nesse espaço (monte perdido junto ao Ribatejo), chamavam ao arco-íris o arco-da-velha. E os trabalhadores sazonais, vindos do Norte, os “ratinhos”, costumavam dizer-me: “Olha o arco-da-velha, Toino! Vá, corre! Há lá um ninho de caminetes (sic) com as luzes a acender e a apagar!” E eu corria sem parar. A ilusão de que ia lá chegar era tão forte que só parava quando, cansado, decidia que ia voltar a tentar no próximo arco-da-velha. E à noite, nos meus sonhos (sempre fui um sonhador…), chegava finalmente junto ao arco e lá estavam a camionetas com as luzes a acender e a apagar…
E foi assim que ficou escolhida a palavra que iria ser a espinha dorsal da crónica. Arco-íris: palavra suculenta, recheada de emoções, link directo para o imaginário de cada um.
Esperando que a luz e as cores do arco-da-velha da minha infância alimentem a vossa imaginação, despeço-me na expectativa de nos encontrarmos no cenário da próxima palavra salteada.
A de… Arco-Íris
Enquanto me questionava sobre a palavra a escolher para confeccionar a crónica que iria servir ao leitor, a memória, como um espelho diferido, devolveu-me a imagem de um fim de tarde chuvoso do mês de Fevereiro.
Vi-me no meu pequeno terraço a contemplar, na parte traseira da casa, o céu carregado de nuvens inquietas e prontas a lançarem-se sobre os prados precocemente verdes. E foi então que o vi, diáfano, colorido, mágico, como uma moldura a abraçar o pinhal: o arco-íris! Era uma ponte a ligar-me à infância no que ela teve de melhor: a liberdade conquistada, milímetro a milímetro, às limitações, interditos e severidades que o dia-a-dia da vida familiar me impôs sem tréguas. E como num poema, lido há muito, cresceram-me as asas para dentro. Estruturalmente diferentes do que é habitual, iam sendo o suficiente para manter viva a esperança em dias melhores. E é com elas que ainda hoje voo…
Nesse tempo (há cerca de cinquenta anos) e nesse espaço (monte perdido junto ao Ribatejo), chamavam ao arco-íris o arco-da-velha. E os trabalhadores sazonais, vindos do Norte, os “ratinhos”, costumavam dizer-me: “Olha o arco-da-velha, Toino! Vá, corre! Há lá um ninho de caminetes (sic) com as luzes a acender e a apagar!” E eu corria sem parar. A ilusão de que ia lá chegar era tão forte que só parava quando, cansado, decidia que ia voltar a tentar no próximo arco-da-velha. E à noite, nos meus sonhos (sempre fui um sonhador…), chegava finalmente junto ao arco e lá estavam a camionetas com as luzes a acender e a apagar…
E foi assim que ficou escolhida a palavra que iria ser a espinha dorsal da crónica. Arco-íris: palavra suculenta, recheada de emoções, link directo para o imaginário de cada um.
Esperando que a luz e as cores do arco-da-velha da minha infância alimentem a vossa imaginação, despeço-me na expectativa de nos encontrarmos no cenário da próxima palavra salteada.
António Pereira
P.s.: Na minha infância, e até há pouco tempo, arco-íris era uma palavra composta por justaposição; hoje, e desde 2004, é uma palavra formada por composição morfossintáctica… Malhas que a gramática tece!
P.s.: Na minha infância, e até há pouco tempo, arco-íris era uma palavra composta por justaposição; hoje, e desde 2004, é uma palavra formada por composição morfossintáctica… Malhas que a gramática tece!
1 comentário:
Gostei muito das tuas "Palavras Salteadas" e do teu breve regresso à infância. Talvez um dia nos possas levar numa viagem a essa infância, dura e cheia de sonhos... Talvez porque já me contaste um dia, eu acho que merece ser contada a história do menino que mílimetro a milímetro conquistou a sua liberdade.
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