11/12/2011

FOTOGRAFIA da SEMANA


Às vezes a solidão tem rosto e forma. Também tem contexto e estórias. Às vezes a solidão pode lembrar-nos, de forma tão triste quanto real, a nossa incapacidade em transformá-la. Qual será a cor da solidão? Parece estar sol, vemos o colorido da camisola, do verde das árvores que beijam o azul celeste, vemos as telhas que abrigaram outros telhados em tempo de vendavais e depois…. vemos a obrigação de parar por ali. Parar de sorrir, parar de passar, parar de sonhar. Parar. Esperar. Solidão, vazio que enche o espaço de coisa nenhuma. Solidão, ausência de sons. Solidão, solitária espera de ninguém. Solidão, bengala muda que só ampara. Solidão no olhar, solidão no estar. Solidão de sol nas gripes de inverno. Solidão de passos, solidão de estórias, solidão sem cor, solidão de dor. 

Foto: Osvaldo Castanheira 
Texto: Maria dos Anjos Fernandes







03/12/2011

FOTOGRAFIA da SEMANA


Na Negra Praça que não está lá, existe uma mulher que não se vê, nem dela se tem qualquer perspetiva. 
Na Negra Praça está um andróide vindo do espaço e regressa ao passado para nos olhar. 
Na Negra Praça podemos ver o espelho que estilhaçou e nesta caixa de letras se transformou. 
A Negra Praça é um jornal de vidro, cheiinho de letras e nos confronta com aquilo que se não lê. 
Na Negra Praça estamos todos nós, perdidos num espaço cúbico e fechado. 
A Negra Praça é a morada da humanidade, estás tu e eu e Madre Teresa e Lady Di e Picasso e Delacroix e David Hume, também Dali. Já partiu Freud das ‘esquisitices’ e James Joyce foi a Paris. Simone namorou lá Sartre e Alexandre Magno inventou batalhas. E vieram tribos, ciganos e nómadas, astecas e maias, todos lá ficaram. 
E a Negra Praça encheu-se de gente que nunca lá esteve, porque não podia. 
Num jornal de vidro só cabem fantasmas e notícias cruas de obituários. 
Nesta Negra Praça tão transparente, cabe a humanidade, tu e eu e eles e toda a gente….

Foto: Osvaldo Castanheira
Texto: Maria dos Anjos  Fernandes