“Roguemos, por favor, não se vá [a morte] embora. Porque a única condição que a espécie humana tem para continuar a viver é morrendo.” – José Saramago
“E se nós não morrêssemos?” é essa pergunta que
José Saramago fez a si próprio e ao leitor quando escreveu As Intermitências
da Morte. Ele reflete sobre o que é a morte, as consequências sociais,
políticas e económicas da suspensão da morte num país fictício e, ao mesmo
tempo, criticando a sociedade moderna.
A
obra começa por relatar os acontecimentos de um país onde a morte cessou a sua atividade, e,
assim, revela-nos várias falhas da sociedade, do governo e da igreja que tentam
perceber a situação. O governo que tenta sempre arranjar soluções discretas
omitindo as suas ações ao povo. A igreja que, agora sem a morte, perderá
sentido. Os gananciosos que iriam aproveitar-se do sofrimento dos moribundos e
dos seus familiares para seu proveito. São estes os objetos de algumas das
críticas à sociedade que José Saramago tece na primeira parte do livro.
À
medida que a história avança, ela toma um rumo diferente do que se esperava.
Após se aperceber das consequências das suas ações, a Morte decide retomar a
sua atividade, mas com uma diferença. É, então, que a morte, posta face a um
problema, começa a ganhar caraterísticas humanas, tornando-se, na segunda parte
do livro, a protagonista do livro. A morte encontra-se perante o imperativo de
tomar uma decisão, e José Saramago cria o suspense e mantém o leitor agarrado
ao livro, pois apenas ao ler a última página do livro é que se revela a decisão
da morte.
José
Saramago, em As Intermitências da Morte , consegue mostrar ao leitor
como a morte é uma parte essencial, embora indesejada, da vida. Nascimento e
morte: dois conceitos sem os quais a vida não seria. Um livro em que não falta
o humor inteligente e a ironia marcante de José Saramago que, apesar dos
assuntos muito dramáticos, irão deixar o leitor com um sorriso na cara. Altamente
recomendável.
10C1, Nº11, Daniel Neacsu
Parabéns ao vencedor.
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