17/03/2014

VER e ESCREVER


Olhando a foto para «Ver e Escrever», chegamos a memórias díspares e podemos questionar se é a realidade que motiva os afetos e as artes, ou se são as artes e os afetos que desenham a realidade e a constroem para a desconstruírem.
Na memória aparecem imagens do filme “Gata em telhado de Zinco quente”, obra de Tenesse Williams que Richard Brooks imortalizou. Surgem questões do valor dos afetos, como o amor – permitido e usual e o outro, proibido e condenável, logo disfarçável. Surgem questões sobre a ganância, o valor do dinheiro, a doença, as verdades e as mentiras que desenham os dias como se estivéssemos sempre, quais gatos, em cima de um telhado de zinco quente e a vitória fosse aguentar e lá permanecer.
Na memória, aparece o génio de Gaudi. Estes gatos podiam, muito bem, ser as musas inspiradoras do artista para os telhados da casa do Sr. Milá.
Não é difícil, mas apenas desconcertante, a analogia deste telhado tecnológico e feio povoado de gatos com a beleza dos deuses antropomórficos nos telhados em ‘La Pedrera’. Gaudi pensava o milagre da vida e da arte e sabia, com certeza, que os gatos têm sete vidas e conseguem aguentar o feio cenário e poiso, tal como Maggie conseguia aguentar a verdade escondida do filho falhado do Big Daddy. E nós, que verdades conseguimos aguentar?

Foto: Osvaldo Castanheira
Texto: Maria dos Anjos Fernandes

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