Olhando a foto para «Ver e Escrever», chegamos a memórias
díspares e podemos questionar se é a realidade que motiva os afetos e as artes,
ou se são as artes e os afetos que desenham a realidade e a constroem para a
desconstruírem.
Na memória aparecem imagens do
filme “Gata em telhado de Zinco quente”, obra de Tenesse Williams que Richard
Brooks imortalizou. Surgem questões do valor dos afetos, como o amor –
permitido e usual e o outro, proibido e condenável, logo disfarçável. Surgem
questões sobre a ganância, o valor do dinheiro, a doença, as verdades e as
mentiras que desenham os dias como se estivéssemos sempre, quais gatos, em cima
de um telhado de zinco quente e a vitória fosse aguentar e lá permanecer.
Na memória, aparece o génio de
Gaudi. Estes gatos podiam, muito bem, ser as musas inspiradoras do artista para
os telhados da casa do Sr. Milá.
Não é difícil, mas apenas
desconcertante, a analogia deste telhado tecnológico e feio povoado de gatos
com a beleza dos deuses antropomórficos nos telhados em ‘La Pedrera’. Gaudi pensava o milagre da vida e da arte e sabia,
com certeza, que os gatos têm sete vidas e conseguem aguentar o feio cenário e
poiso, tal como Maggie conseguia aguentar a verdade escondida do filho falhado
do Big Daddy. E nós, que verdades conseguimos aguentar?
Foto:
Osvaldo Castanheira
Texto:
Maria dos Anjos Fernandes
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