Desta janela pouco podemos dizer. Estarão aqueles pares dentro do edifício com a janela a espreitar para eles ou estarão eles a passar pelo edifício e irão a espreitar, olhando para nós e outros horizontes pela janela?
Não é uma janela vulgar. A forma, aparentemente circular, só nos confunde e encanta.
Dos dois verbos prefiro o do encantamento. A confusão ficou no cérebro que a concebeu, no papel do estirador que a acolheu e dos trabalhadores e materiais que a deram à luz. Dar à luz, uma janela que dá luz. E da luz, a confusão desapareceu….
Quanto ao encantamento, é bem diferente. Foi ali que os sete anões esconderam a princesa até que o príncipe a beijou e libertou do encantamento, foi ali que viveu a mais bela e o mais monstro que, por amor, regressou à forma principesca pela bondade daquela que apenas lhe via a alma. Foi ali que se escondeu um rapaz de bronze que Sophia Andersen moldou de virtudes, foi ali que uma centopeia dançou até se transformar na mais bela bailarina da companhia de Olga Roriz, foi ali que todos já estivemos. Todos menos aqueles quatro que, de acordo com Pedro Abrunhosa, terão de fazer ‘o que ainda não foi feito’: ir espreitar, subir ao Monte dos Vendavais, encontrar o Conde de Monte Cristo, subir as escadas da Senhora da Agonia, de Viana do Castelo, e espreitar o mar, de uma janela sem forma de o ser. Aqueles quatro viajantes, caminham no silêncio da plenitude, desejosos que os seus passos façam o caminho que os olhos de todos nós ambicionam.
Foto: Osvaldo Castanheira - Texto. Mª dos Anjos Fernandes