04/04/2011

FOTOGRAFIA da SEMANA

Quando Jorge Amado escreveu O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, estava sentado numa janela da Lua, a olhar para estes telhados, varandas, sacadas, escadas entrelaçadas, a torre da Igreja, as sardinheiras floridas. Como estava longe, não conseguiu ver nenhum gato, nem nenhuma andorinha. Mas como a Lua (sobretudo quando está cheia, é mágica) disse-lhe que, embora não fossem visíveis, os animais tão antagónicos, mamífero e ave, estavam lá e até tinham nome. O gato, como se calcula não faz migrações, vai permanecendo por cá todos os dias, estiraçado ao sol, saltando de varanda em varanda, aproveitando o calor das escadas, até daqueles telhados que, apesar de não serem de zinco, são acolhedores do calor que os gatinhos tanto apreciam. Além disso, os telhados são um refúgio seguro quando os donos se zangam, quando algum cão os persegue ou quando sentem o cheiro apetitoso de um ratinho mais destemido e vem averiguar como está o tempo fora do esconderijo.


Mas o Gato Malhado estava farto daqueles domínios, já sem segredos nem aventuras que o pudessem arrebitar.


Porém, há uma altura do ano com muitas novidades! Tal como agora, na primavera, tudo começa a nascer, a esbracejar na terra, a florir, a cheirar bem e chegam umas aves muito prazenteiras e destemidas que voam milhares de quilómetros para apreciarem tudo isto. Algumas conheciam aqueles telhados, aqueles beirais, aquela torre sineira, as chaminés, as melhores rotas da lama, dos mosquitos que um dia serviriam de alimento à sua descendência. Já eram clientes habituais. A propósito, chegaram ontem, de verdade, a 16 de março!


Havia uma, a Sinhá, que se travou de amores por uma bola de pelo felpudinho que, nos voos rasantes, apreciava nos voos do seu céu azul.


Não se esqueçam que o nosso autor ainda está sentado na lua, espreitando à janela e observa tudo. Se a situação já era estranha para ele (tinha-se esquecido como tinha ido parar tão longe de casa, Zélia devia estar preocupada….), resolveu voltar o mundo de pernas para o ar: a lua vinha para o chão e ele podia descer, os telhados ficaram encantados, o Malhado apaixonou-se pela Sinhá, as sardinheiras ficaram floridas eternamente, desapareceram os ferozes cães e os donos arreliados, o sino começou a tocar a Primavera de Vivaldi, as casas branquearam com o luar, o sol brilhava devagar para não secar a lama com que Sinhá faria sua casinha, apareceriam muitos mosquitinhos e insetos curiosos e até desejosos de serem o futuro menu dos biquitos da prole da Sinhá. Como tudo estava encantado e mágico, o mais improvável aconteceu: o Malhado, movido pelas asinhas do Cupido atreveu-se a voar qual Ícaro e ajudava Sinhá nas suas tarefas, esta emprestou a sabedoria e a aerodinâmica ao Malhado e ensinou-o a voar.


Já observaram que não se vêm pessoas? Assustaram-se, foram embora para uma terra normalzinha, sem luas no chão, com o sol no seu lugar e a brilhar da forma habitual.


E Jorge Amado?


Esse, que era o Malhado, desceu da Lua, foi ter com Zélia que era a Sinhá e ainda hoje se estão a rir das estórias que nos contaram!




Foto: Osvaldo Castanheira - Texto: Maria dos Anjos Fernandes




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