Não estamos a ver nem a olhar para ‘A Persistência da Memória’ de Dali e,
no entanto, a memória persiste.
Tantos de nós observamos e vemos, através desta imagem, um tempo de
infância em que fomos meninos de muitos porquês, de muitos gestos repetidos, de
palavras ensonadas, de ‘respeitosos medos’, de tantos ‘Dá licença, Minha
Senhora?’, de silêncios sem respostas.
Símbolos e ícones de um País, num tempo parado e tristonho, ritmado por
rotinas feitas valores inquestionáveis. Jesus, crucificado, Símbolo dos
Símbolos, era contado como o Salvador de todos os males que as nossas almas já
tinham feito, nos primórdios da, ainda, não existência…
Depois lá estavam os outros salvadores e garantes das nossas vidinhas. Os
Chefes da Nação. Comandavam e todos (quase todos…) obedeciam; até o relógio marcava
generosamente um tempo certinho, de dez e dez. Capicua e harmonia perfeita.
Esta composição tão certinha até deixa espaço à imaginação para
desenharmos triângulos maçónicos, secretos, perturbados pelo quadro negro onde,
à força de mais ou menos palmatórias íamos desfilando o rosário do saber ler,
escrever e contar. Líamos, escrevíamos, contávamos. Depois…..
Não podemos ignorar…..
Mesmo sem Dali, ainda temos as memórias que persistem.
Foto: Osvaldo Castanheira
Texto: Maria dos Anjos Fernandes
Postado por Carlos Cotter
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