Dizia Victor Hugo que ‘a vida não passa de uma oportunidade de encontro’. Mas o passado nem Victor Hugo não voltam e não podem imaginar que há na vida coisas, muitas, que nunca se podem encontrar. Olhemos esta ilha de árvores, paradoxalmente uma rotunda (será mesmo ou não será, sendo apenas uma apertada curva de uma qualquer serra ou montanha do nosso “des-contentamento”?- Imaginemos o que os nossos olhos quiserem, em qualquer dos casos é um deslumbramento em nenhures….) que cumpre as devidas funções que os senhores do Código da Estrada determinaram, numa moda às vezes carnavalesca. Bem, estas árvores encontram-se num espaço, próximas como aqueles amigos que estão ali sempre connosco, aconteça o que acontecer. E como é bom e nós gostamos e ficamos felizes. Mas depois, olhamos melhor e observamos (sim, nós somos pessoas atentas) que aquele morrozinho veio mesmo a calhar! Transformaram-no em rotunda (pois assim seja e assim fique!), mas não deram conta que as árvores já não sorriem, estão sós e projectadas num vazio onde têm apenas o céu e as estrelas, quiçá a lua e o sol quando brilha. Terão a chuva a escoar-se por ali abaixo para o asfalto que não a absorve e para nada lhe serve. Se não a beberem pelas folhas, morrerão desidratadas e só ficará o morro/rotunda a cumprir as suas magníficas funções…..
Mas o que desvirtua mais o sábio Victor Hugo é o último olhar, aquele que nos revela que há coisas na vida que nunca têm oportunidades de se encontrarem. A fazer fé no sentido que os automóveis seguem e pensando que nenhum dos condutores é um sábio louco que resolve fazer uma inversão de marcha, aí os temos, na mesma direcção seguida, cada qual com seu destino, comum no passado de se depararem com um monte de árvores a servir de obrigação ao percurso do qual nenhum sabe, nem sequer que o outro existe e também está lá e vai, e segue…
Mas será que se encontram? Será que conseguirão a oportunidade irrepetível de se encontrarem numa estrada que segue, segue em frente, o caminho que lhe fizeram, de ida e volta, sem qualquer conhecimento dos mistérios insondáveis daqueles que se querem encontrar no mesmo caminho? Coitado do morro que, sem qualquer culpa, é a antítese de Victor Hugo!
E este? Teria razão?
Será mesmo a vida uma oportunidade de encontros ou desencontros? Os verdadeiros encontros não serão tão mágicos como a quadratura do círculo e este morro não será tão só um quadrado circular?
Foto: Osvaldo Castanheira - Texto: Maria dos Anjos Fernandes
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