Esta menina está a pensar na frase que ouviu e que a fez feliz: ‘serás única para mim’. Descobriu que já não é. Também está a pensar que não quer ser única para ninguém a não ser para si própria e não sabe como há de comunicá-lo. De qualquer modo, a unicidade representa uma tal verdade máxima na vida de cada um, que consegue acarretar para dentro daquilo a que chamamos consciência, alegria, felicidade, tristeza, remorso, dúvida, sofrimento. A sorte é que vamos tendo uns estranhos recantos, lugares definidos para as nossas reflexões, risos ou lágrimas, onde nos refugiamos para pensar ou alinhar a nossa energia química com a nossa existência de seres totais, que não cabem em qualquer buraquinho de alfinete. Depois temos ainda o paradoxo, escondemo-nos no tal refúgio, mas queremos ver o que acontece se formos detetados, nós e os nossos afetos, emoções de risos ou nódoas sentimentais de lágrimas. São os riscos de ser igual, ou talvez de querer/não querer ser diferente. Lá está o vidro, translúcido, forrado de minúsculas grades, a proteger e a testemunhar.
Serão assim todas as prisões da alma?
Foto: Osvaldo Castanheira - Texto: Mª dos Anjos Fernandes