Experimentemos
duas possibilidades para visualizarmos esta imagem que, por ser imagem,
estática está.
Pensemos
observá-la na margem oposta do lago. Veremos pessoas numa combinação perfeita
de momentos, quiçá descritos por Thomas Mann na sua Montanha Mágica em que o
espírito e a natureza andam a par com a saúde e a doença, numa primavera ou
verão alpinos, fazendo do tempo da espera de desfechos quase sempre
previsíveis, um tempo de ilusões para projetar o futuro que é sempre um tempo
inexistente porque, quando lá chegamos, é sempre o presente que se transforma
impreterivelmente em passado.
Mas a
quietude do lago e das árvores, onde não observamos ventanias nem as
tempestades interiores, abraça a serenidade postural de quem observamos e a nós
não vê porque não estamos lá. Mesmo que estivéssemos, teríamos olhos de
silêncio, atentos apenas ao essencial. E este essencial deslumbraria pela
perfeição de momentos irrepetíveis entre Homem e Natureza.
Podemos
supor que estamos no lado oposto e observamos tudo o que à nossa frente está,
coincidente com quem está e nos volta as costas. Então, surge-nos a analogia
com os Buendía que G. Garcia Márquez nos leva a supor viverem em Macondo, terra
dos cem anos de solidão. Ali estão eles, todos os ‘José Arcádio’, todos os
‘Aureliano’, todos os ‘Melquíades’, todas as ‘Úrsula’, todas as ‘Amaranta’ de
costas para o exterior de si próprios, acreditando que aqueles bancos e árvores
parados no tempo e no espaço são a sua casa abençoada, que é naquele lago que
está a possibilidade alquímica de ouro obter.
Mais
importante que o ouro será o encontro que determina o fim da procura: cada um
se pode rever num lago – espelho onde passado, presente e futuro coexistem na
visão hedonista em que pode existir um elixir permanente de ser. Ser com o
Outro, de Si e Para Si!
Eis o
Santo Graal de cada um de nós.
Não o
procuremos.
Se
quisermos, encontramo-lo no pensar e no ser que vamos sendo.
Basta
que não tenhamos pressa e nos sentemos num qualquer lugar assim, imaginando que
chegamos ao Paraíso.
Foto: Osvaldo Castanheira
Texto: Maria dos Anjos Fernandes
Postado por Carlos Cotter
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