“Guerra é Paz,
Liberdade é Escravidão, Ignorância é Força”, as palavras de ordem inscritas no
Ministério da Verdade, que vinham várias vezes à lembrança de Winston em ‘1984’, de G. Orwell, podiam ser
as palavras pensadas por este solitário a quem tamanha missão deram.
Missão de aplanar o
mar! Como se este pudesse transformar-se em chão sólido, já que estradas
líquidas nele existem! Este homem está só com a sua máquina, no estranho
labirinto interior em que se transformou esta imensidão de areia lisa de coisa
nenhuma. Diz a canção que o mar, quando bate na areia desmaia, mas tantos
desmaios constantes já teriam levado à não-existência e, nem mar nem praia
existiriam, se apenas canção a canção não fosse.
Não, este homem não
leu Orwell, este homem nem sabe cantar, este homem sabe apenas a tarefa que lhe
deram, sem a compreender, sabe também que o mar há de voltar e areia trazer e
areia levar. Como este homem e esta máquina, enormes na sua insignificância,
assim estamos todos, perante a incongruência verídica do slogan no Ministério
da Verdade: a Paz do mar que caminhos deu pode ser a guerra dos homens; a
Liberdade das ondas que altas enrolam vai trazer a escravidão das máquinas mas
a Ignorância que permite ver não pode esconder a força de tudo querer.
Há mar e mar…. há ir e
voltar…. E o poder para tudo isto ser?
O poder? Esse, diria
Winston, esse vem de Deus!
Foto: Osvaldo Castanheira
Texto: Maria dos Anjos Fernandes
Postado por Carlos Cotter
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