Este cinzento é triste. É triste na água metálica, é triste na falésia arenosa, é triste nas margens, é triste nos passos que ficaram.
Foi este o caminho que fez a menina que visitava a avó com a sua merendinha.
Não pensava ela haver outros, lobos que inventaram maus, e a perseguiam.
E seguiu em frente, chamando a avozinha muito doentinha, para lhe dar a sua merendinha.
Coitadinha da avozinha.
Coitadinha da menina.
Nem imaginava que lobos havia e que falavam, e por praias andavam.
Cumpriu a tarefa.
Estranhou a doença da pobre avozinha que nem sequer queria a tal merendinha.
Quis voltar para casa pelo mesmo caminho, mas deparou com maré tão alta que inundava os passos do seu destino.
Voltou para trás, perdida e sem rumo, andando em círculos com a sua cestinha. Fugia dos lobos, inventava afetos e calava os gritos.
Correu no cinzento como em pradaria, não havia nada e ninguém ouvia.
Renasceu a avozinha.
Caminhou a menina sozinha na praia.
Não se matam lobos na nossa magia.
Foto: Osvaldo Castanheira - Texto: Maria dos Anjos Fernandes
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