Há uma canção popular que nos ensina a ouvir e a cantar uma menina que
está à janela com o cabelo à lua.
Não é esta a menina. Nem das cantigas, nem dos ciclos astrais.
Esta estática menina está nas margens da galáxia e existe para nos
impressionar, numa qualquer idealização desmedida de Tim Burton.
Por norma, as bonecas cumprem várias funções: são memórias que
preservam a infância, que fazem crescer, que ensinam a ser. São companheiras
dos sonhos e amigas solitárias de solitárias amigas. São um quarto, uma casa,
rua e bairro, são jardins de brincadeira. São os nomes e as partilhas de
fantasias. São as mães e as filhas, doentes e médicas, anfitriãs e convidadas,
professoras e alunas, juízes e assassinas. São o si-mesmo sem nada serem,
personificação mais banal ou mais intensa, quanto mais ou menos Barbies
povoarem o espaço de crescer.
Porém, esta boneca tem algo de diferente. É poética na ingenuidade de
existir para quem a brinque, é sinistra e personagem de filme para quem ali a
deixou a descansar dos esconjuros que as amigas – bruxas de Salém – lhe
provocaram.
Quem a vê, assim abandonada, não sente qualquer compaixão no
esquecimento.
Quem a olha, experimenta algum alívio por não ter de suportar, à
noite, algures no espaço onde se entrega ao sono e ao sonho, o olhar que destes
olhos estranhos sai, o cabelo que não voa, a janela sem menina e sem lua.
Perante este ícone, de força desmesurada e beleza negativa, só nos
resta pensar que Obélix dela se enamorou, dela se cansou e para ali a deixou.
Nem ele teve forças para tanto!!!
Foto: Osvaldo Castanheira
Texto: Maria dos Anjos Fernandes
Postado por Carlos Cotter
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