Estas duas janelas perderam
toda a essência de ser ‘janelas’.
Por elas não entra luz, nem sol, nem calor, não há nenhum
gato a espreitar-nos e a aquecer-se ao sol, não há ninguém que se debruce a ver
passar o tempo e a mostrar que está lá e a janela é sua.
De cada uma destas janelas, nada se consegue ver. Os tijolos
são opacos. Nenhum olhar deixam sair, nenhum olhar deixam entrar.
Podemos supor que estas janelas foram a alma de casas-lares, por onde entraria o
mundo. Podemos supor que seriam habitadas e haveria móveis e conversas
sussurradas em volta de mesas sumptuosas…
Também podemos supor mães a embalar os seus meninos que
choravam ou riam pela beleza de coisa
nenhuma, apenas pelo afago do amor supremo.
Depois veio o tempo de um futuro vazio e todos se foram. As
mães e seus meninos, os pais e seus gatos.
As conversas pararam e lá dentro ficaram hologramas
fantasmas de coisa nenhuma.
E tijolos vieram, e tijolos ficaram, e tijolos colaram.
Por estas janelas já ninguém vê: nem de dentro para fora,
com o mundo a espraiar-se, nem de fora para dentro, com o coração a bater, por
querer saber, por querer saber….
Foto: Osvaldo Castanheira
Texto: Maria dos Anjos Fernandes
Postado por Carlos Cotter
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