15/01/2012

FOTOGRAFIA da SEMANA



        Estas duas janelas perderam  toda a essência de ser ‘janelas’.
      Por elas não entra luz, nem sol, nem calor, não há nenhum gato a espreitar-nos e a aquecer-se ao sol, não há ninguém que se debruce a ver passar o tempo e a mostrar que está lá e a janela é sua.
      De cada uma destas janelas, nada se consegue ver. Os tijolos são opacos. Nenhum olhar deixam sair, nenhum olhar deixam entrar.
      Podemos supor que estas janelas foram  a alma de casas-lares, por onde entraria o mundo. Podemos supor que seriam habitadas e haveria móveis e conversas sussurradas em volta de mesas sumptuosas…
        Também podemos supor mães a embalar os seus meninos que choravam  ou riam pela beleza de coisa nenhuma, apenas pelo afago do amor supremo.
       Depois veio o tempo de um futuro vazio e todos se foram. As mães e seus meninos, os pais e seus gatos.

       As conversas pararam e lá dentro ficaram hologramas fantasmas de coisa nenhuma.

       E tijolos vieram, e tijolos ficaram, e tijolos colaram.

      Por estas janelas já ninguém vê: nem de dentro para fora, com o mundo a espraiar-se, nem de fora para dentro, com o coração a bater, por querer saber, por querer saber….

Foto: Osvaldo Castanheira
Texto: Maria dos Anjos Fernandes





Postado por Carlos Cotter

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